Este blog surgiu no âmbito da unidade curricular de Perturbações da Fluência e tem como objectivos principais informar as pessoas sobre a perturbação de gaguez em adultos e também relatar as experiências de pessoas gagas e pessoas próximas destas.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

4 Lições Que um Gago Pode Ensinar

"Afinal, nós gagos, temos razões para sermos uma fonte de inspiração e não um alvo de chacota. Mesmo perante a nossa condição não viramos as costas à luta e temos que ir em frente porque ninguém poderá caminhar por nós." (Hugo Sousa)

E para quem acha que não tem nada a aprender com as pessoas com esta perturbação, deixamos aqui 4 lições bem interessantes :)




domingo, 16 de dezembro de 2012

Cognitive Traing

Intervenção Terapêutica – Abordagens
Cognitive Traing

Aqui o paciente aprende a identificar e remover pensamentos e ideias negativas, e aprender métodos e técnicas para modificá-los. Há também um importante treino de competências sociais e comunicativas (fazer amigos, fazer questões, entre outras) e uma aprendizagem em lidar com comentários depreciativos ou críticas, melhorando a sua capacidade de resolução de problemas.



Narrative Terapy

Intervenção Terapêutica – Abordagens
Narrative Terapy

Nesta abordagem o utente vai reescrever a sua história, ou seja vai alterar o problema principal, desenvolvendo uma nova narrativa.
Assim, o utente vai separar-se do problema e encontrar respostas ou comportamentos alternativos para lidar com o mesmo.


Mindfulness Aproch

Intervenção Terapêutica – Abordagens
Mindfulness Aproch

Esta abordagem tem sido cada vez mais utilizada e baseia-se na consciencialização sobre o presente, promovendo a aceitação do mesmo, sem reacção negativa e aceitando os seus sentimentos e pensamentos. Tendo sempre em conta que o sofrimento faz parte da condição do ser humano.



Fluency Shaping

Intervenção Terapêutica – Abordagens
Fluency Shaping 

Esta abordagem tem sido usada por muitos terapeutas nos últimos 40 anos e tem como objectivo aumentar a fluência, generalizando-a para os diferentes contextos.
As técnicas usadas baseiam-se na fala lenta, fala continua, contactos articulatórios suaves e controlo de respiração. Esta abordagem tem eficácia directa na fluência, no entanto leva a pouca naturalidade na fala.



Stuttering Modification

Intervenção Terapêutica – Abordagens
Stuttering Modification

Esta metodologia foi desenvolvida por Charles Van Riper, no século 20, e foca-se na redução no medo de gaguejar.

Os principais objectivos centram-se em ensinar o gago a modificar os seus momentos de gaguez, reduzir o medo de gaguejar e eliminar os comportamentos de evitação associados.

O processo de Terapia é constituído por 4 principais fases:

IDENTIFICAÇÃO: Esta fase tem como objectivo, que o utente identifique os momentos de gaguez, bem como seu tipo e as sensações e as sensações físicas decorrentes do momento de gaguez.

DESSENSIBILIZAÇÃO: Tem como objectivo reduzir medos e sentimentos negativos associados à gaguez. Sendo que para isso é importante que o paciente tenha um conhecimento sobre a sua gaguez e desenvolva uma gaguez voluntária.

MODIFICAÇÃO: Aqui o paciente vai aprender uma forma de gaguejar mais facilmente.

ESTABILIZAÇÃO: Esta última fase serve para ajudar a consolidar e estabilizar os ganhos terapêuticos, ajudando o gago a ser o seu próprio terapeuta e modificando a sua própria imagem.



Pagoclone

Intervenção Terapêutica - Medicação
Pagoclone




Para além dos tratamentos não medicamentosos para a gaguez, existem também tratamentos medicamentosos. Este vídeo mostra-nos a forma de actuação do Pagoclone, um dos medicamentos possíveis de serem utilizados no tratamento da gaguez. Este foi estudado em 130 adultos que gaguejavam, verificando-se uma melhoria nos sintomas da gaguez em mais de 50% dos pacientes tratados.
O Pagoclone é um agonista selectivo do GABA. Actua sobre os receptores do GABA, sem provocar muitos dos efeitos colaterais comuns em benzoadiazepínicos, como sedação e dependência. O mecanismo preciso da actuação ainda é desconhecido, porém, o GABA parece sérum dos neurotransmissores implicados nas anormalidades funcionais detectadas no cérebro, ajudando assim a reestabelecer o funcionamento normal de algumas regiões dos núcleos da base relacionadas ao controle da fala.


SpeechEasy

Intervenção Terapêutica - Ajudas Técnicas 
SpeechEasy





Este vídeo mostra-nos, de uma maneira geral, os benefícios da utilização do SpeechEasy, na melhoria da qualidade de vida, com um testemunho de um jovem com esta perturbação.

O SpeechEasy é semelhante, em aspecto, a um aparelho auditivo, contudo, em vez de amplificar o som, altera-o, para que ouça a sua própria voz com um ligeiro atraso e uma frequência diferente.
Este atraso da voz e alteração da frequência vai recrear um fenómeno natural, baseado no facto de que quando uma pessoa que gagueja fala em simultâneo com outra pessoa, torna-se mais fluente. Este fenómeno é conhecido como “efeito coro”. Ou seja, o SpeechEasy cria a ilusão que está outra pessoa a falar ao mesmo tempo que o seu utilizador.
Através do efeito coro são activados processos cerebrais diferentes do discurso espontâneo, e é por este motivo que o SpeechEasy é considerado um inibidor cerebral, pois “engana” o cérebro e activa áreas diferentes das normalmente utilizadas.

Os dados recolhidos a partir de utilizadores deste aparelho, demonstram que, na sua grande maioria, exibem uma melhoria muito significativa no sue nível de fluência, sendo que, o nível de melhoria da fluência varia para cada paciente e depende de um certo número de factores internos e externos.

No entanto, é preciso ter em conta que, o SpeechEasy não pode ser visto como uma alternativa a Terapia Tradicional, mas sim como um complemento. Alguns pacientes não necessitam de formação adicional ao usar SpeechEasy, enquanto outros exigem um mínimo de treino com um Terapeuta da Fala. As pessoas que já tiveram algum acompanhamento em Terapia da Fala, têm mais facilidade de atingir níveis de fluência mais naturais ao usar SpeechEasy.



sábado, 15 de dezembro de 2012

Perspectiva de Intervenção Adulto/Criança


Quando o objectivo é melhorar a fluência, a percepção inicial é a de que intervenção em Terapia da Fala com adultos é menos promissora do que a efectuada com crianças.
Em geral, isto é um facto, visto que as crianças ainda estão numa primeira fase e podem ter a possibilidade de uma recuperação natural ou de atenuar a sua disfluência. Pelo contrário, os adultos já arranjaram os seus próprios mecanismos, visto que têm vastos anos de comunicação com esta perturbação associada, o que torna estas técnicas mais rígidas e difíceis de modificar.




É ainda importante ter em conta que estes anos de vida com esta perturbação trouxeram consequências ao indivíduo adulto relativamente à sua percepção de capacidade comunicativa. Esta percepção, muitas vezes, contamina a forma como a pessoa se auto-avalia, afecta a auto-estima, e muitas vezes, origina um sentimento de incapacidade em relação a qualquer actividade relacionada com comunicação oral. A frustração e a baixa auto-estima, por vezes, acabam por afectar diferentes actividades que não envolvem directamente a comunicação oral. Tudo isto afecta também a vida social destes indivíduos, alguns reduzem os seus contactos com medo da frustração de não conseguirem comunicar com eles “correctamente”, outros, apesar de manterem os seus contactos, torturam-se, evitando palavras que comecem com um som onde sabem que provavelmente vão gaguejar, estando constantemente a afzer uma selecção de palavras.
Esta auto-protecção, embora seja compreensível, complica mais a vida do individuo com perturbação de gaguez, pois, sem haver um confronto de situações desconfortáveis, tudo se torna cada vez menos familiar e mais embaraçoso.
O facto de a sociedade em geral desconhecer a questão da gaguez complica a vida, ainda mais, a indivíduos com esta perturbação. Muitas pessoas consideram a gaguez engraçada, isso para além de demonstrar ignorância em relação á perturbação de gaguez, perturba imenso quem sofre dela.
É preciso notar que os conhecimentos mais fundamentados sobre gaguez são recentes, dependeram dos avanços de algumas tecnologias, por isso é normal haver ainda pouca experiência em anos anteriores em relação a esta perturbação.
A intervenção em Terapia da Fala “não faz magia”, mas muitas vezes vai para além da fala propriamente dita: é uma descoberta do processo de comunicação, de como lidar com os mecanismos de fala mais efectivamente e de fortalecer a sua auto-estima. Este é o propósito da Terapia, para uns mais fácil do que para outros, mas recompensador para todos, desde que o indivíduo esteja ciente do seu objectivo vendo que muito do trabalho vai para além dos exercícios e actividades propostas, é um complemento dos vários mecanismos com ele próprio e o meio à sua volta.




A Avaliação na Gaguez






É importante começar por perceber que aquilo que vai ser tratado não é a gaguez, mas sim a pessoa com gaguez e o impacto que a gaguez tem na pessoa em questão e na sua vida.
Os momentos de avaliação devem procurar o que a gaguez parece ocultar, ou seja, o próprio sujeito, que deve ser abordado na sua complexidade e na pluralidade de níveis afectados.

Assim sendo, a avaliação procura alcançar a complexidade relacional das pessoas, procura compreender mais do que interpretar, encontrar ligações onde aparentemente elas não existem, e, principalmente, além de perturbações, procura sobretudo potencialidades, forças criadoras que promovam o reencontro do sujeito consigo próprio, com os outros e com o Mundo!

Então o que é avaliado?

- A experiência global da pessoa, as disfluências, a severidade da gaguez, os sintomas associados e outros aspectos considerados pertinentes.

É também de estrema importância perceber o porquê do pedido de ajuda, bem como a perspectiva da pessoa relativamente à sua gaguez e os afectos que ai estão implicados. 

Intervenção em Terapia da Fala


A intervenção em Terapia da Fala na perturbação de gaguez centra-se no utente e não na perturbação em si.

Esta intervenção consiste em arranjar estratégias e técnicas que vão ajudar a pessoa com essa perturbação a ultrapassar as dificuldades que tem a comunicar e em ajudar a pessoa a lidar com o seu dia-a-dia e com situações sociais que causam sofrimento e ansiedade.

Infelizmente a Gaguez ainda não tem cura, mas tem tratamento e os resultados obtidos pela intervenção em Terapia, demonstram que nunca é tarde para tratar a gaguez, dificuldade que condiciona gravemente o quotidiano de milhares de pessoas. (Leal, Gonçalo; et. al.; 2009)




Etiologia (causas) da gaguez


A gaguez é uma perturbação da fluência de etiologia multifactorial, reunindo factores genéticos, neurofisiológicos e ambientais.

  • Factores genéticos:
- A tendência para gaguejar é transmitida geneticamente numa percentagem significativa da população. Diz-se tendência porque apesar de a gaguez se manifestar por herança genética, não quer dizer necessariamente que se venha a manifestar. Esta manifestação dependerá sempre da interacção com o ambiente. É bastante comum que a criança que gagueje tenha na família alguém que também o faça. A gaguez pode não se manifestar de forma semelhante a outro familiar, dado que a gravidade depende sobretudo de outros factores, tais como, linguísticos, emocionais e/ou sociais.

  • Factores neurofisiológicos:
- Investigações recentes com recurso a imagens de funcionamento cerebral, demonstraram que durante o discurso de uma pessoa que gagueja, existe por vezes a activação anómala de determinadas zonas cerebrais, sobretudo uma maior activação do hemisfério direito, assim como alterações a nível do funcionamento dos núcleos de base, estrutura cerebral utilizada no discurso espontâneo. 

  • Factores ambientais:
- Compreende-se por factores ambientais todos os factores que interferem com o desenvolvimento da pessoa. Portanto, são considerados os factores linguísticos, sociais, emocionais, assim como a dinâmica familiar. Será a interferência entre estes com os factores genéticos, que eventualmente podem desencadear a perturbação, daí a gaguez ser considerada uma perturbação multifactorial.



O Medo de Falar


O bloqueio das cordas vocais é a certeza da gaguez em determinado som, por exemplo, o medo de o gago revelar-se gago, e a vergonha de ser gago, que vem das lembras de tantas situações frustrantes.
Assim o controle da fala (ao tentar controlar a gaguez, através da antecipação) e o medo de passar por novas situações frustrantes andam lado a lado. Então o que vem antes, o medo ou a tentativa de controlar a fala? Segundo Wladimir o medo é produto dessa tentativa. 
Portanto:



Isto torna-se então um ciclo vicioso que se auto-alimenta. Mas após entender o problema dentro de uma lógica, possibilita-se trilhar um determinado caminho.





Disfluência Normal



Então e será que sou “gago” só porque de vez em quando tenho uma disfluência ou outra?

A resposta é claramente não. A disfluência normal pode acontecer a qualquer um de nós, e representa as situações em que temos dificuldade em dizer aquilo que queremos, por exemplo por:

Esquecimento da palavra que queria dizer;

Constatação de que a palavras ou frase não está a sair exactamente como pretendia;

Entre outras razões, nem sempre claras ou evidentes.

Assim sendo, a hesitação ou disfluência, vai fornecer tempo para o falante resolver dificuldades momentâneas relacionadas com o que vai dizer. Estas estão presentes na fala de todos os falantes, sendo que não existem falantes que nunca hesitem ou que nunca sejam disfluêntes. No entanto, é importante referir que os falantes considerados fluentes apresentam uma baixa quantidade de hesitações ou disfluências.

As manifestações mais frequentes desta disfluência normal são:

REFORMULAÇÕES: sinalizam termos considerados inadequados pelo falante e que são reparados. Às vezes, é possível verificar a presença de marcadores de reformulações, como: “melhor”, “na verdade” ou “quer dizer”. As reformulações envolvem repetições e correcções. Os falantes considerados fluentes apresentam uma baixa quantidade de reformulações.

PAUSAS FLUENTES LONGAS OU HESITAÇÕES: ao contrário das pausas hesitativas, as pausas fluentes tendem a ocorrer em fronteiras sintácticas fortes (entre orações ou sintagmas), ocorrendo diferenças significativas na frequência vocal antes e depois da pausa.
Ao contrário do que se pensa, as pausas fluentes não ocorrem apenas para que a pessoa possa respirar. As pausas servem para demarcar significados, sendo colocadas em lugares linguisticamente relevantes. Entretanto, ao fazer a pausa, o falante também pode aproveitar para inspirar.

É importante referir que na fala de pessoas sem distúrbios de comunicação, 70% das pausas são fluentes, enquanto os outros 30% são pausas hesitativas. Sabe-se que pessoas que fazem pausas em fronteiras sintácticas fortes com maior frequência tendem a apresentar um menor número de hesitações ou disfluências na fala. Os falantes considerados fluentes apresentam pausas em quantidade, duração e distribuição adequadas.
Assim, concluímos que numa disfluência normal, as interrupções acontecem geralmente entre as palavras, ao contrário de uma disfluência patológica.



Fluência


Ao longo de todo o nosso blogue temos vindo a referir que a gaguez se trata de uma perturbação na fluência da fala. Mas será que a noção de fluência é clara pra todos? Então o que é a fluência?
É importante começar por referir que a fala implica tempo e espaço, sendo que o seu mecanismo engloba, basicamente, articulação, fonação, ressonância e a prosódia. Estes processos são encontrados no aparelho fonador, sendo que a prosódia é o resultado da harmonia entre os mecanismos envolvidos.
A fluência, está então directamente relacionada com a dimensão temporal da fala (pausas, entoação e débito,) resultando da coordenação adequada de várias operações de processamento e activação sincronizada de várias áreas corticais.
De uma forma geral, o desenvolvimento da fluência implica o desenvolvimento de mecanismos de processamento automáticos e pouco conscientes. Ou seja, quanto mais fluente for a pessoa, menos atenção precisa para falar. A fluência simplesmente acontece, sem que a pessoa saiba exactamente o porquê.
Assim, para avaliar a fluência de uma pessoa é necessário observar diversos aspectos da sua fala.





Questionar-se


A problemática da gaguez e os fenómenos com ela relacionados podem ser observados de vários pontos de vista, tornando difícil, por exemplo, determinar uma causa ou um ponto de partida para esta perturbação.
No entanto, os múltiplos factores da gaguez podem ser considerados uma evidência da complexidade de toda a condição humana, sendo que esta não envolve apenas aspectos biológicos e genéticos, mas também aspectos relacionados com o comportamento.
A gaguez não impede que as experiências humanas continuem a existir e a acontecer, independentemente das nossas suposições acerca da sua origem ou motivação.
A complexidade da gaguez, longe de ser um impedimento à sua visualização, precisa de se tornar num convite ao seu conhecimento, à sua compreensão como objecto de estudo, num tempo em que quase todos desejam resultados e respostas.
O “não-saber”, não se deve apresentar como algo assustador ou paralisante, mas sim, ser um convite ao diálogo, à aprendizagem e ao conhecimento.